Fazer arquitetura envolve mobilizar aspectos diversos em relação ao meio onde se insere o edifício: contexto sócio-cultural, político, econômico; estética, legislação, funcionalidade, e, dentro desta última, eficiência de uso, ocupação e conforto. As obras de Laurent Troost têm mostrado a articulação entre esses diversos fatores, com particular atenção ao último: o conforto, especialmente o térmico. Em geral, seus projetos priorizam a ventilação natural em detrimento do uso de climatização artificial, quase que obrigatória nas construções dentro do modelo de cidade atual.
Nascido e formado na Bélgica, Laurent Troost é radicado em Manaus (AM), depois de ter atuado em países como Espanha e Holanda. Participou do OMA, escritório do holandês Rem Koolhaas, onde pôde trabalhar com projetos de grande escala, além de uma equipe multinacional. A diversidade de nacionalidades certamente contribui para uma visão mais ampla e consciente do mundo. Ao mudar-se para o Brasil, o contato com escritórios nacionais e uma pós-graduação o levaram a Manaus, onde trabalhou como diretor do Instituto Municipal de Planejamento Urbano da Prefeitura de Manaus.
A passagem pelo órgão público trouxe uma compreensão do contexto amazonense, que se reflete em seus projetos: existe a adequação ao clima – em geral, a liberação do edifício no nível do solo, como uma espécie de pilotis –, à logística, em termos de fornecimento de materiais de construção e orçamento – apesar da mobilização econômica, Manaus é uma cidade pobre –, e ao contexto histórico da arquitetura que floresceu durante o ciclo da borracha.
Em face aos desafios climáticos francamente anunciados, valer-se de estratégias passivas de climatização e o uso de materiais visando ao essencial da construção (ainda que por motivos de precarização regional) são posturas que atualizam a arquitetura, e demonstram possibilidades que podem ser estudadas, debatidas, adequadas às particularidades de outras regiões. Em sentidos mais amplos, a prática de Laurent Troost também atesta uma possibilidade de descentralização da arquitetura nos eixos hegemônicos.
Talvez a mentalidade de essencialidade e otimização climática possam incitar outras formas de projetar, ou recuperar aquelas ditas vernaculares, mas, como provam os projetos de Troost, continuam definitivamente atuais. Confira: